Soyuz-13 – A primeira missão espacial tripulada da URSS dedicada à Ciência

A missão Soyuz-13 seria a última missão espacial de uma cápsula Soyuz em 1973, sendo a primeira missão espacial tripulada da URSS inteiramente dedicada à Ciência. A missão havia sido repetidamente adiada devido aos problemas encontrados no programa espacial tripulado, nomeadamente devido aos problemas com as primeiras estações espaciais DOS.

A carga principal desta missão foi constituída pelo telescópio astrofísico Orion-2. Este dispositivo foi projectado por Grigor Gurzur, membro correspondente da Academia de Ciências da Arménia e tinha como missão observar as estrelas na banda ultravioleta do espectro electromagnético. O telescópio estava instalado na parte dianteira do Módulo Orbital no lugar do sistema de acoplagem. Além do mais, o próprio Módulo Orbital foi transformado num laboratório cientifico e a Soyuz-13 estava equipada com painéis solares para o fornecimento de energia aos instrumentos a bordo bem como ao próprio veículo espacial.

A missão da Soyuz-13 foi programada para coincidir com a passagem do cometa Kohoutek próximo da Terra em finais de 1973.

A tripulação principal da missão foi anunciada em Julho de 1973, sendo constituída pelos cosmonautas Lev Vasilievich Vorobyev e Valery Alexandrovich Yazdovsky. Lev Vorobyev terá quase sido vítima de uma intriga política nos anos 60 quando após a sua selecção para o Corpo de Cosmonautas a 10 de Janeiro de 1963, como fazendo parte de um grupo de novos treinandos para as futuras missões lunares, Vorobyev viu-se em apuros quando em 1964, ele e outro candidato a cosmonauta, Eduard Pavlovich Kugno, criticaram publicamente o Partido Comunista. Quando foi solicitado a Kugno que fizesse um discurso para um comité local do Partido Comunista, Kugno respondeu dizendo que “Eu não irei falar para um Partido de vigaristas e bajuladores!” Eduard Kugno seria expulso do Corpo de Cosmonautas a 16 de Abril de 1964, no entanto Vorobyev escapou-se desta purga porque já era membro do Partido Comunista. Posteriormente, Vorobyev acabaria por participar nos treinos para os programas Almaz e Kontakt.

Valery A. Yazdovsky teve um papel importante no desenvolvimento do programa experimental para a missão Orion-2. Tendo integrado o TsKBEM no tempo de Sergei Korolev em 1957 e fazendo parte da equipa que projectou e desenhou as cápsulas espaciais Vostok, Voskhod e Soyuz, esta seria a sua primeira missão, tendo no entanto servido em posições de suplente em missões anteriores. Infelizmente, tanto para Vorobyev como para Yazdovsky, a relação entre ambos era quase impossível. A certa altura, durante o treino, ambos se recusaram em sentarem-se à mesma mesa, preferindo lugares em pontos opostos no refeitório. Um mês antes do lançamento, o supervisor dos cosmonautas, Vladimir Shatalov, não teve outra opção senão remover os dois homens da missão e nomear para a tripulação suplente para a missão.

Lev Vasilievich Vorobyev e Valery Alexandrovich Yazdovsky

Os dois novos cosmonautas, Pyotr Ilych Klimuk (Comandante), 31 anos de idade, e Valentin Vitalyevich Lebedev, 31 anos de idade, foram lançados no veículo 7K-T n.º 33A às 1155UTC do dia 18 de Dezembro de 1973 pelo foguetão 11A511 Soyuz (S15000-28) a partir do Complexo de Lançamento LC1/1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur, tendo sido colocados numa órbita com um perigeu a 193,3 km de altitude, apogeu a 272,7 km de altitude e com uma inclinação orbital de 51,6º. O veículo recebia a designação Soyuz-13 após entrar em órbita terrestre.

Tal como a tripulação principal original, ambos os cosmonautas eram estreantes em voos espaciais. Klimuk, era considerado uma ‘criança prodígio’, foi o primeiro do seu grupo de cosmonautas, seleccionado a 28 de Outubro de 1968, a realizar um voo espacial. Treinou durante muitos anos nos programas lunares L1 e L3 antes de ser seleccionado para esta missão. Lebedev era um engenheiro civil proveniente do TsKBEM que ingressou no Corpo de Cosmonautas a 22 de Março de 1972, um ano antes da missão. Foi um dos tempos mais curtos entre a selecção e o primeiro voo espacial na história do programa espacial soviético. Ambos os cosmonautas treinaram de forma exaustiva no Observatório Byurakan, Arménia, onde o telescópio Orion-2 fora construído.

Com os dois cosmonautas em órbita, pela primeira vez na história do voo espacial astronautas dos Estados Unidos e cosmonautas da União Soviética estavam em órbita ao mesmo tempo. A tripulação da missão Skylab SL-4 estava a meio da sua missão a bordo da estação espacial Skylab, tendo sido lançados a 16 de Novembro de 1973. Na quinta órbita da Soyuz-13, os cosmonautas haviam realizado uma série de manobras orbitais colocando o veículo numa órbita com um perigeu a 225 km de altitude, apogeu a 272 km de altitude e com uma inclinação orbital de 51,6º.

Durante a missão, Klimuk e Lebedev levaram a cabo um variado leque de experiências científicas nos campos da Medicina, Biologia, Recursos Terrestres, Astronomia e Navegação.

As experiências médicas incluíram a experiência Levkoy-3 para investigar a circulação do sangue para o cérebro em condições de microgravidade. A principal experiência no campo da Biologia centrava-se na utilização da unidade Oazis-2 para investigar a massa proteica no espaço, e que os cosmonautas activaram no segundo dia em órbita. Nesta experiência, os produtos de desperdício de um tipo de bactéria serviram como o material inicial utilizado por outras bactérias para acumular massa proteica. Durante a missão, este processo regenerativo aumentou a biomassa por 35 vezes, um sinal encorajador para aqueles que então tentavam desenhar e projectar um sistema de suporte de vida de ciclo fechado. As plantas utilizadas na experiência incluíram a clorela e lemnoideae.

Pyotr Ilych Klimuk (Comandante)

Valentin Vitalyevich Lebedev (Engenheiro de Voo)

As experiências de observação da Terra incluíram a utilização do espectrógrafo RSS-2 para fotografar os horizontes diurno e nocturno. Os cosmonautas também utilizaram uma câmara de nove lentes com diferentes filtros coloridos para expor três faixas simultâneas à superfície terrestre. Dois dos filmes eram sensíveis à luz visível e o terceiro à luz infravermelha. Os exercícios de navegação consistiram em actividades em navegação autónoma para determinar a precisão dos sistemas de controlo.

O principal objectivo desta missão era a utilização do telescópio Orion-2. Ao contrário do telescópio Orion-1 na estação espacial Salyut, o Orion-2 estava colocado completamente no exterior do veículo espacial. O telescópio estava colocado numa plataforma estabilizada nos seus três eixos espaciais com uma precisão de orientação entre dois e três segundos de arco. A orientação do telescópio era levada a cabo tanto deslocando o veículo espacial como o telescópio, utilizando treze motores eléctricos. O telescópio espacial também incluía um instrumento para o estudo das emissões de raios-x provenientes do Sol, com a tripulação a levar a cabo estas experiências no terceiro dia de voo durante a 65.ª órbita e juntamente com observações efectuadas a partir da Terra. Durante a missão Soyuz-13 a tripulação obteve 10.000 espectrogramas de mais de 3.000 estrelas na constelação do Touro, Orion, Gémeos, Auriga e Perseu. Todos os espectrogramas, utilizando filme fornecido pela NASA, encontravam-se na região espectral de 2.000 a 3.000 Angstrom, que não pode ser estudada a partir da Terra.

 

Com uma missão bem sucedida atrás de si, os dois homens regressaram à Terra após uma missão com uma duração de 7 dias 20 horas 55 minutos e 35 segundos, aterrando às 0850UTC do dia 26 de Dezembro de 1973.

Apesar de objectivos modestos, a missão da Soyuz-13 – juntamente com a missão da Soyuz-12, instilou alguma esperança nos engenheiros espaciais soviéticos que finalmente conseguiram eliminar todos os problemas na cápsula espacial Soyuz.

Baseado num texto de Asif A. Siddiqi “Challenge do Apollo – The Soviet Union and the Space Race (1945-1974)