Astra lança Rocket-3.3 desde Kodiak

A Astra Space Inc. realizou com sucesso o lançamento da missão Spaceflight Astra-1 a 15 de Março de 2022 colocando em órbita dois pequenos satélites. Uma terceira carga permaneceu acoplada ao segundo estágio do lançador. A missão surge depois do desaire ocorrido a 10 de Fevereiro e que resultou na perda de quatro satélites na missão VCLS (VADR) Demo-2A/ELaNa-41.

O lançamento teve lugar às 1622:00UTC e foi realizado pelo foguetão Rocket-3.3 (LV0009) a partir da Plataforma de Lançamento LP-3B do Kodiak PSCA (Pacific Spaceport Complex – Alaska). A janela de lançamento desta missão decorria até às 1651UTC.

O lançamento foi adiado do dia 14 de Março devido às más condições meteorológicas.

A missão tinha como objectivo colocar as suas cargas numa órbita a uma altitude de 525 km com uma inclinação de 97,5.º.

Imagens: Brady Kenniston / Astra

A carga da missão Spaceflight Astra-1

Na missão Spaceflight Astra-1 foram três cargas, sendo duas destes satélites que se separaram do segundo estágio do lançador, enquanto que a terceira carga permaneceu acoplada ao segundo estágio.

A carga que permaneceu acoplada ao segundo estágio era denominada S4 CROSSOVER. Esta é uma missão de demonstração tecnológica para obter dados de teste para um protótipo de modelo de carga. Tem como missão testar futuras cargas, incluindo um transmissor Globalstar e um receptor Iridium, bem como instrumentos de caracterização do ambiente espacial para análise da densidade da radiação e do plasma para as quais as cargas serão expostas.

A S4 CROSSOVER possuí o seu próprio sistema de fornecimento de energia e opera independentemente  do segundo estágio no qual permanece acoplado. As transmissões provenientes do S4 CROSSOVER iniciam-se após o final da queima do segundo estágio, sendo activado por activado por relés no veículo lançador, e irá operar até o final da sua bateria algumas semanas após o lançamento.

A S4 CROSSOVER foi desenvolvida e será operada pela NearSpace Launch.

O pequeno CubeSat-1U OreSat-0 (Oregon Satellite 0) foi desenvolvido e será operado pela Universidade Estatal de Portland e tem uma massa de 1 kg. O pequeno satélite esteve na lista de cargas da missão SXRS-6 / Transporter-3, mas o seu lançamento acabou por ser adiado e agendado para a missão Spaceflight Astra-1.

O satélite tem como missão fornecer dados de voos para o modelo OreSat. Este é um modelo de satélite versátil, modular, expansível e de «open-source».

Na altura desta publicação não foi dada qualquer informação relativa à terceira carga a bordo.

Os satélites SpaceBEE

Anteriormente conhecidos por BEE (Basic Electronic Elements), os pequenos satélites são construídos sob a forma CubeSat-0.25 e servem para demonstrar comunicações bidirecionais de dados por satélite para a Swarm Technologies Inc.. A constelação final será composta por 150 satélites, sendo fabricados um total de 170 unidades.

Estes satélites usam banda VHF para comunicar entre si. Será também implantada uma base terrestre para operar estes satélites. Estima-se que esta missão começará a ser operada logo após o lançamento. Esta missão durará entre 6 meses a 2 anos.

Nesta missão foram colocados em órbita dezasseis satélites SpaceBEE denominados SpaceBEE-112 a SpaceBEE-126 e o SpaceBEENZ 11.

O Rocket-3.3

O lançador Rocket-3.3 tem um comprimento de 11,6 metros e é capaz de colocar cargas entre os 25 kg e os 150 kg numa órbita a 500 km de altitude sincronizada com o Sol.

O primeiro estágio está equipado com cinco motores Delphin que consome querosene altamente refinado (RP-1) e oxigénio líquido (LOX). O primeiro estágio desenvolve uma força de 144,57 kN ao nível do mar. O segundo estágio está equipado com um motor Aether que também consome RP-1 e LOX, desenvolvendo uma força de 3,29 kN no vácuo.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga
2022-F06 LV0006 Kodiak, LP-3B 28/Ago/21

22:35:00

STP-27AD1
2021-108 LV0007 Kodiak, LP-3B 20/Nov/21

06:16:00

STP-27AD2
2022-001 LV0008 CCSFS, SLC-46 10/Fev/22

20:00:00

BAMA-1

INCA

QubeSat

R5-S1

2022-026 LV0009 Kodiak, LP-3B 15/Mar/22

16:22:00

S4 CROSSOVER

OreSat-0

SpaceBEE-112

a

SpaceBEE-127

Lançamento

Abandonando a plataforma de lançamento, o foguetão inicia a manobra de arfagem a T+6s, atingindo a zona de máxima pressão dinâmica (MaxQ) a T+1m 10s. O final da queima do primeiro estágio ocorre a T+3m 00s e a separação das duas metades da carenagem de protecção teria lugar a T+3m 5s.

A separação entre os dois estágios ocorre a T+3m 10s e cinco segundos mais tarde entraria em ignição o motor Aether do segundo estágio. O final da queima do segundo estágio tem lugar a T+8m 40s.

A separação da carga ocorre a T+8m 50s, com os satélites a serem colocados numa órbita com uma altitude de 525 km e inclinação orbital de 97,5.º.

Desenvolvimento do lançador Rocket

Os desenvolvimentos que levaram ao Rocket-3.3 surgem após dois voos sub-orbitais com os foguetões Rocket-1.0 e Rocket-2.0. dois voos realizados em Julho e Novembro de 2018, respectivamente. Estes voos foram originalmente considerados falhas. No entanto, a Astra afirmou que o primeiro lançamento foi bem-sucedido e que o segundo lançamento foi “mais curto do que o esperado”. Nenhum destes veículos foi projectado para atingir a órbita terrestre, pois não possuíam estágios superiores activos.

Ao foguetão Rocket-3.0 foi destinada a função de vencer o prémio do DARPA Launch Challenge, no entanto problemas no desenvolvimento do veículo, nomeadamente um incêndio que ocorreu num ensaio pré-lançamento em Março de 2020, levou a que a Astra Inc não pudesse tentar o lançamento dentro do prazo estabelecido.

Após o desenvolvimento do Rocket-3.0, seguiu-se o Rocket-3.1 que realizou a primeira tentativa de lançamento orbital a 12 de Setembro de 2020. Segundo a Astra, as causas que levaram à perda do Rocket-3.1 estiveram relacionadas com a ocorrência de oscilações no sistema de orientação do primeiro estágio que levaram a que o veículo se desviasse da trajectória prevista e levando à desactivação dos motores do primeiro estágio. O foguetão caiu então descontrolado e explodiu no impacto com o solo.

O lançamento do Rocket-3.2 teve lugar a 15 de Dezembro de 2020. Neste lançamento conseguiu-se a separação entre os dois estágios do lançador, com o segundo estágio a realizar a sua queima para atingir a velocidade orbital. Inicialmente declarado um imenso sucesso, o foguetão não conseguiu atingir a órbita terrestre. Porém, horas depois do lançamento foi referido por Chris Kemp, fundador e responsável máximo da Astra, que “depois de atingir uma altitude de 390 km, que era nossa altitude orbital nominal, alcançamos uma velocidade de 7,2 km/s… abaixo da velocidade orbital de 7,68 km/s“.

Tal como na missão anterior, este lançamento não transportou qualquer carga útil, tendo como objectivo avançar um passo mais e tentar alcançar a órbita terrestre, à medida que a empresa continua a desenvolver e testar o seu pequeno lançador de satélites.

A investigação relacionada com a perda do veículo LV0008

A 10 de Fevereiro de 2022,  Astra realizou o lançamento do foguetão Rocket-3.3 (LV0008). Este foi o primeiro lançamento com uma carga útil de cliente e o primeiro lançamento desde Cabo Canaveral. Após um voo nominal do primeiro estágio, ocorreu uma anomalia durante o processo de separação do estágio que resultou no estágio superior a não atingir a órbita terrestre e consequente perda da missão. Imediatamente, a empresa iniciou o processo de investigação para determinar a causa da anomalia.

A investigação verificou que a carenagem de protecção da carga não foi totalmente separada antes da ignição do segundo estágio devido a um problema eléctrico. Os mecanismos de separação (existindo cinco mecanismos deste tipo na carenagem de protecção) foram acionados numa ordem incorreta, o que resultou em movimento fora do nominal da carenagem que causou uma desconexão elétrica. Devido à desconexão, o último mecanismo de separação nunca recebeu o seu comando para abrir, o que impediu que a carenagem de se separasse completamente antes da ignição do estágio superior.

Separadamente, foi descoberto um problema de software que fazia com que o mecanismo do estágio superior não pudesse usar o seu sistema de controlo de força vectorial TVC (Thrust Vector Control). Isso levou o veículo a ficar descontrolado após a separação não nominal do estágio e causou o fim da missão.

A causa principal do problema de separação da carenagem foi um erro num desenho de engenharia da ligação eléctrica. Esta ligação foi construída e instalada no veículo exatamente como especificado pelos procedimentos e pelo desenho de engenharia, mas um erro de desenho levou à troca de dois canais da ligação (nos locais ‘4’ e ‘5’). Antes do voo LV0008, realizamos um teste de sinal para verificar o sistema de separação e garantir que o sistema estivesse conectado corretamente. Este teste teria sido capaz de detectar um erro na construção ou instalação da ligação, mas não conseguiu detectar um erro no projeto. Os canais de separação trocados causaram uma sequência de separação diferente da que se esperava, e isso levou à falha na abertura da carenagem. O modo de falha foi reproduzido realizando várias experiências nas instalações da Astra com hardware de voo real, um dos benefícios de ter um piso de produção ativo com vários veículos lançadores em vários estados de produção ao mesmo tempo.

Depois de determinar a causa principal do problema de software, foi descoberto que o software de controlo de voo estava vulnerável a um modo de falha específico. Uma série de sinais perdidos resultou numa cadeia de eventos, resultando na incapacidade do estágio superior de se recuperar da sua queda.

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 6192

– Lançamento orbital EUA: 1789 (28,89%)

– Lançamento orbital desde PSCA Kodiak: 5 (0,08% – 0,28%)

Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):

6193 – 17 Mar (0700:??) – Jiuquan, ?? – ?? – ??

6194 – 18 Mar (1555:19) – Baikonur, LC31 PU-6 ‘Vostok’ – 14A14-1A Soyuz-2.1a (S15000-051) – Soyuz MS-21

6195 – 19 Mar (0255:??) – Cabo Canaveral SFS, SLC-40 – Falcon 9-145 (B1051.12) – Starlink G4-12 (x48) F41 [v1.5 L12]

6196 – 22 Mar (????:??) – GIK-1 Plesetsk, ?? – ?? – ??

6197 – 25 Mar (0600:??) – Jiuquan, ?? – ?? – ??

6198 – 30 Mar (1845:??) – CE Kennedy, LC-39A – Falcon-9 – AX-1: Crew Dragon

6199 – 07 Abr (????:??) – Vandenberg SFB, SLC-4E/LZ-4 – Falcon-9 – NROL-85 (Intruder-13A, Intruder-13B)

6200 – 10 Abr (?) (????:??) – Xichang, LC? – Chang Zheng-3B/G2 – Zhongxing-6D

6201 – 15 Abr (????:??) – CE Kennedy, LC-39A – Falcon-9 (B1067.4) – Crew Dragon (USCV-4 Crew-4)

6202 – 19 Abr (????:??) – GIK-1 Plesetsk, LC35/1 – Angara-A1.2/AM (71602/x) – MKA-R №1

6203 – 03 Mai (????:??) – Onenui (Máhia), LC-1A – Electron – CAPSTONE

6204 – 07 Mai (????:??) – CE Kennedy, LC-39B – SLS Block-1/iCPS – Artemis-I, ArgoMoon, BioSentinel, CU-E3, CuSP, (CuSPP+), EQUULEUS, LunaH-Map, Lunar Flashlight, Lunar IceCube, LunIR (Skyfire), Miles, NEA Scout, OMOTENASHI