Módulo de aterragem da Rosetta a entrar em hibernação eterna

Philae_descends_to_the_comet_medium

Em silêncio desde a sua última ligação à nave mãe Rosetta, há sete meses, o módulo Philae está a enfrentar condições tão agrestes no Cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko das quais terá dificuldade em recuperar.  

A Rosetta, que irá continuar a sua investigação científica no cometa até setembro, altura em que ela própria irá aterrar no cometa, tem estado, nos últimos meses, a balancear as observações científicas com trajetórias específicas, otimizadas para ouvir o Philae. Mas o módulo tem estado em silêncio desde 9 de julho de 2015.

As hipóteses de o Philae entrar em contacto com a nossa equipa no centro de controle estão infelizmente a chegar perto de zero,” diz Stephan Ulamec, gestor de projecto do Philae, no Centro Aeroespacial da Alemão, DLR. “Já não estamos a enviar comandos e seria muito surpreendente que voltássemos a receber qualquer sinal outra vez.”

A equipa de peritos do Philae, engenheiros e cientistas, dos centros espaciais na Alemanha, França e Itália, e em toda a Europa, têm feito investigação exaustiva para tentar perceber o estado do lander, juntando pistas desde que este terminou o primeiro conjunto de actividades científicas, depois da aterragem histórica a 12 de Novembro de 2014.

Uma história incrível,  com altos e baixos. Além de uma falha no motor, o Philae não conseguiu libertar os arpões que o prenderiam à superfície depois da sua descida de sete horas, rebolando por isso do seu ponto de aterragem inicial em Agilkia, para um novo local, Abydos, a mais de um km de distância. A localização precisa do lander ainda tem de ser confirmada com imagens de alta-resolução.  

Approaching 1A reconstrução do voo do lander indicia que este estabeleceu contacto com o cometa quatro vezes durante as duas horas adicionais de voo, através do cometa. Depois de rebolar de Agilkia passou pela depressão de Hatmehit, rebolando novamente, e assentando depois na superfície de Abydos.

Mesmo depois desta excursão não planeada, o lander manteve-se capaz de fazer uma impressionante quantidade de medições científicas, até após o primeiro ressalto.

Quando o lander aterrou finalmente, as equipas científicas trabalharam intensamente para adaptar as experiências para tirar o máximo partido do inesperado da situação. Cerca de 80% das actividades científicas planeadas inicialmente foram concluídas.

Nas 64 horas que se seguiram à separação da Rosetta, o Philae captou imagens detalhadas do cometa, vistas de cima, examinou compostos orgânicos, e caracterizou o ambiente local e as propriedades à superfície do cometa, fornecendo uma visão revolucionária sobre este mundo fascinante.   

Mas como a luz solar que chegava ao local era insuficiente para carregar as baterias secundárias, a prioridade foi recolher dados e transmiti-los à Rosetta, e de volta para a Terra, a 510 milhões de quilómetros, antes que as baterias principais se gastassem por completo. Assim, na noite de 14-15 de Novembro de 2014, o Philae entrou em hibernação. 

Ao longo de 2015, foram feitos contactos esporádicos. Os engenheiros de missão acreditam que falhas nos emissores e receptores do Philae são a explicação mais provável para este contactos irregulares, a que se seguiu um silêncio contínuo ao longo neste ano.

Outra dificuldade que o Philae poderá estar a enfrentar é os seus painéis solares estarem a ser cobertos por poeira, ejectada pelo cometa durante os meses de periélio, impedindo o lander de se reabastecer. 

Além disso, a attitude e mesmo a localização do Philae pode ter-se alterado desde Novembro de 2014, devido à actividade do cometa, o que poderá ter alterado a antena da Rosetta, afectando a esperada janela de comunicação.

O nível de actividade do cometa está a diminuir, permitindo que a Rosetta reduza a sua distância ao cometa novamente,” diz Sylvain Lodiot, responsável pelas operações da Rosetta para a ESA.

Ficaríamos muito surpreendidos se voltássemos a ter notícias do Philae, depois de tanto tempo, mas iremos manter a Rosetta sintonizada até já não ser possível, devido a constrangimentos de energia, à medida que nos afastamos do Sol, em direcção ao final da missão,” diz Patrick Martin, responsável de missão Rosetta da ESA.

Notícia e imagens: ESA